sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Sem um amanha


Bruno, ele era novo, não devia ter mais de vinte e dois anos, é ele já sabia muito da vida, teve uma infância mergulhada na marginalidade.
Com quatorze anos de idade, foi retirado aos pais, por causa do seu comportamento, e porque desde cedo agarrou-se as drogas como maneira de esquecer tudo, e querer ser grande no meio do crime.
Ele com aquela idade não sabia nada da vida, aprendeu mais tarde, aprendeu pelo pior caminho.
Aos vinte e dois anos, saiu da casa de correcção, sim só aos vinte e dois, pois assim foi julgado pelo tribunal.
A primeira coisa que fez quando saiu, foi procurar os pais, ele não era o mesmo e queria ser alguém na vida, foi direitinho a casa dos pais, queria pedir desculpa pelos anos perdidos, e queria dar o afecto de filho que nunca deu, afinal tinha crescido sem o aconchego dos pais, tudo porque foi iludido e não sabia o que naquele preciso momento estava a perder.
Era na rua da Almada – Porto, numa casa antiga, uma casa histórica com daquelas que vemos nos postais da cidade, foi lá onde ele cresceu quando era mais novo, juntamente com os pais.
Era uma casa simples, que os pais sustentavam com esforço para dar um bom lar, e, um bom futuro ao filho, mas bruno aquando chega a tal casa, a única coisa que vê são ruínas, na frente da casa só existia a fachada do edifício, e as infra-estruturas de madeira da casa, partidas e queimadas.
Nas ruínas do edifício Nº28 da rua da Almada, encontrava-se ainda a caixa de correi da família que tinha escrito.
“Eduardo pereira, Maria Azevedo e bruno pereira Azevedo”
Eram estes os três nomes da família, pai, mãe e filho.
Ele frustrado com o que vira, e cheio de interrogações, foi a um cafezinho duas fachadas ao lado, o café ali permanência desde os tempos de criança, é os donos ainda eram os mesmo.
Ele entrando no café relembrando-se dos velhos tempos perguntou a Sr. do café:
-Minha senhora, poderá me dizer, o que se passou naquela casa ali a frente, a do Nº 28?
 Respondeu a senhora com um ar entristecido:
-Bem meu menino, nessa casa morava uma família de três pessoas, o pai era carpinteiro tinha 47 anos, e a mãe era vendedora no bolhão, tinham um menino de 14 anos, os pais adoravam o rapaz, sempre foram muito bons para ele, só que ele era muito traquinas, muito rebelde, só estava bem a fazer asneiras e a roubar.
Ele foi retirado aos pais, pela segurança social e o tribunal, e foi para uma casa de correcção
Seis meses depois de ele ir, mais dia, menos dia, houve um enorme incêndio de noite, causado por um aquecedor, infelizmente, os pais do menino não sobreviveram, acho que o menino nem sabe, eles estão sepultados no cemitério da Lapa.
Do menino eu não soube mais nada, mas como se costuma dizer, “quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita”, por isso deve andar por ai na má vida, talvez ate preso.
E tudo o que sei.
Bruno, com uma enorme dor, e vontade de chorar, pálido, angustiado, responde um simples:
-Obrigado
E sai do café a chorar, para ele aquilo tinha sido um tiro no escuro, ele queria mudar dizer o quanto amava os pais e agora não era possível.
-NÃO PODE SER, SO PODE SER MENTIRA!!!
Dizia ele a chorar compulsivamente, sentado na berma de um passeio.
Era tudo muito repentino, ele não sabia como reagir, levantou-se calado, foi em direcção a uma paragem de autocarro, e apanhou um autocarro para o cemitério da Lapa.
Chegado ao cemitério, e depois de muitos minutos a procura, encontrou o jazigo e junto dele ajoelhou-se a chorar, a pedir desculpa por tudo, por não ter sido um orgulho para eles, os decepcionou, e jurou firmemente, que iria lutar o resto dos dias, para ser um orgulho para eles.
Saiu do cemitério, sem perder tempo, se inscreveu numa escola para acabar o nono ano, e foi procurar um trabalho de noite.
Depois do nono tirado, e de dia a dia a arranjar trabalho melhor e ganhar mais, foi concluindo o ensino secundário e a faculdade.
Hoje, bruno tem 43 anos, e engenheiro civil, conclui com sucesso, todos os níveis escolares e conclui a faculdade numa das melhores faculdade de Portugal “Faculdade de engenharia e universidade do Porto”.
É casado, conheceu sua mulher Teresa de 36 anos na escola na escola secundária João Gonçalves Zarco quando completava o décimo primeiro ano, e com ela teem dois filhos, um menino com o nome de Eduardo, e uma menina chamada Maria, nomes esses dados em honra dos seus pais que tanto lutou por ele.
Ele visita o jazigo dos pais semanalmente, e nele se ajoelha, e chora, chora de felicidade, por ter sido capaz de lutar e ser alguém, e promete ser um bom pai, já que não consegui ser um bom filho, e sabe que estejam onde estiverem, eles estão orgulhosos dele.

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